terça-feira, fevereiro 09, 2010

Chapada Diamantina - Bahia

Surgimento

A Chapada Diamantina nem sempre foi uma imponente cadeia de serras. Há cerca de um bilhão e setecentos milhões de anos, iniciou-se a formação da bacia sedimentar do Espinhaço, a partir de uma série de extensas depressões que foram preenchidas com materiais expelidos de vulcões, areias sopradas pelo vento e cascalhos caídos de suas bordas. Sobre essas depressões depositaram-se sedimentos em uma região em forma de bacia, sob a influencia de rios, ventos e mares. Posteriormente, aconteceu um fenômeno chamado soerguimento, que elevou as camadas de sedimentos acima do nível do mar, pressionada pela força epirogenética, tendo aos pouco um sofrível erguimento ao longo de milhões de anos. As inúmeras camadas de arenitos, conglomerados, e calcários, hoje expostas na Chapada Diamantina, representam os depósitos sedimentares primitivos; a paisagem atual é o produto das atividades daqueles agentes ao longo do tempo geológico. Nas ruas e calçadas das cidades da Chapada, lajes de superfícies onduladas revelam a ação dos ventos e das águas que passavam sobre areais antigos.

A História

A criação e ocupação das cidades e vilas da Chapada Diamantina é fruto direto da exploraçào do diamante. Antes da descoberta desta pedra preciosa a região era vagamente povoada e ainda comandada pelo índios Maracás, que respondiam com violência à chegada de estranhos. A agropecuária praticada nas grandes fazendas era a atividade econômica principal. No século XVII, por volta de 1710, foi descoberto ouro no sul da Chapada ( próximo ao Rio de Contas pequeno, nesta época surgiram as vilas de Rio de Contas e Jacobina. Mal o ouro havia se esgotado, as pedras preciosas foram descobertas. A exploração do diamante começou após a expedição dos naturalistas alemães Spix e Martius, em 1820, que confirmou o potencial diamantino da Serra do Sincorá, levando centenas de garimpeiros para lá.Com a corrida do diamante foram nascendo as cidades: Mucugê, Andaraí e Lençóis, esta última tornando-se a Capital do Diamante. Os garimpeiros armavam suas barracas de toldo, parecendo lençóis estendidos, às margens dos rios mais ricos em diamantes. Daí teria se originado o nome da cidade.
É importante destacar também a exploraçào do carbonato na Chapada Diamantina. Inicialmente desprezado pelos garimpeiros, a partir de 1871 foi disputado a altos preços pelos países europeus, interessados em elementos resistentes para as máquinas e construções que alavancavam a Revolução Industrial.
Conforme o crescimento das vilas e povoados, casas de taipa ou adobe eram erguidas. Como nas cercanias de Xique-Xique de Igatu não havia barro suficiente, os garimpeiros do lugar lançaram mão do único material disponível e construíram suas casas de pedras.
O dinheiro que corria à solta nas lavras atraía gente de todos os lugares: aventureiros, sertanejos que abandonavam as lavouras, fugitivos da justiça, donos de escravos, prostitutas, comerciantes, capangueiros, garimpeiros oriundos do Arrail do Tijuco (atualmente Diamantina) e tantos outros.
No entanto, após vinte e cinco anos, duração aproximada da fase áurea do ciclo do diamante, o esgotamento da lavra na Chapada provocou o desmoronamento da economia e a decadência das cidades.

Com a proclamação da República, o que restou na região da Chapada começou a ser disputado pelos Coronéis que redobraram suas lutas pela posse da terra e pelo domímio político. Após a revolução de 1930 e suas conseqüências, a Chapada Diamantina, sem lideranças políticas e com a economia completamente destroçada, se estagnou por um longo período. A recuperação bem recente se deve ao desenvolvimento do turismo e à implantação de polos de agricultura moderna. Ainda hoje, alguns moradores vivem do garimpo, apesar da região ter sido transformada em Parque Nacional.

O Coronelismo

Região marcada por grandes diferenças sociais e concentrações de renda, a Chapada Diamantina foi, da segunda metade do século XIX até década de 1930, um barril de pólvora comandado por poucos e muito poderosos coronéis. As tradicionais famílias proprietárias de terra davam abrigo e emprego para os colonos e exploradores a procura de riquezas, e em troca conquistavam a gratidão e fidelidade dessas pessoas. Formaram-se assim verdadeiros exércitos de jagunços disposto a defender com a própria vida os interesses dos patrões.

As divergências entre coronéis levaram à criação de dois partidos políticos que, mais que uma posição ideológica, representavam uma escolha social. Os liberais e conservadores (ou pinguelas e mandiocas, apelidos dados a um pelo outro) dividiam-se em tudo, do uso obrigatório da cor-símbolo do partido à formação de duas orquestras filarmônicas que disputam as atenções nas festas populares.

As mudanças da transição do Império para a República, ainda que chegando com certo atraso à região, acirraram ainda mais a tensão política dos grupos rivais. A tentativa de centralização do poder em um governo federal (e a consequente perda de influência na política local) e a abolição da escravatura foram mudanças que assustaram a política conservadora local. Batalhão Patriótico das Lavras Diamantinas, sob o comando do Cel. Horácio (sentado)

Com a morte do coronel Felisberto Augusto de Sá em 1896, acirraram-se as disputas pelo poder na região. Os coronéis Felisberto Sá e Heliodoro de Paula Ribeiro travaram, através de seus jagunços, uma verdadeira guerra na região. O seqüestro do filho de Felisberto, Francisco Sá, agravou a disputa, que só terminou com a intervenção do governador baiano.

Um período de relativa paz marcou a passagem de comando dos coronéis a seus sucessores. Horácio de Matos, sobrinho de Clementino de Matos (outro coronel), é chamado para assumir as áreas do tio e propõe paz entre as famílias. Um curioso início de carreira para o homem que, após violentas batalhas contra a Coluna Prestes, seria definitivamente considerado o coronel mais temido e respeitado da Chapada.
(Carlos F. d'Andréa)

O Parque Nacional da Chapada Diamantina

O Parque Nacional da Chapada Diamantina foi fundado em 1985 com a intenção de proteger a região - já muito prejudicada pela mineração e criação de gado - e incentivar o turismo e pesquisa científica. A área total do parque é de 1520 km2 e abriga mais da metade da serra do Sincorá.

O ecossistema atual da região é bem diferente do encontrado pelos primeiros badeirantes que a exploraram. Grandes árvores foram derrubadas para facilitar a mineração, que também ocasionou a erosão do solo. Com a proibição do garimpo na região do Parque Nacional, o fogo, colocado tradicionalmente nos pastos pelos fazendeiros, é hoje o grande inimigo do ecosistema.
Com altitude média entre 800 e 1000 metros, a Chapada é formada por um extenso planalto que possui picos de até 1.700m, o que favorece a formação de grandes vales.O principal período de chuvas da região é de novembro a fevereiro, e durante todo o ano há grandes variações diárias de temperatura.
Os solos rasos, consequência das escavações, facilitam o escoamento das águas através das encostas. A Chapada é o grande divisor de águas entre a bacia do São Francisco e os rios que rumam para o Oceano Atlântico, como o Paraguaçu.
A vegetação é bem diversificada, misturando florestas de planície, campos rupestres, agrestes e caatinga (nas terras secas). Nos vales à beira dos rios, por exemplo, a mata é densa e os solos, mais ricos.
Uma atração à parte são os mais de 50 tipos de orquídeas, bromélias e trepadeiras que, de abril a agosto, embelezam os cenários da Chapada. A região possui também muitas plantas que são usadas para fins medicinais.
Entre os animais encontrados na rica fauna da região estão o tamanduá bandeira, tatu canastra, porcos espinhos, gatos selvagens, capivaras e inúmeros tipos de pássaros e cobras. Algumas espécies estão ameaçadas de extinção, principalmente devido à caça.

Lendas

Pai Inácio

Um escravo chamado Inácio havia se apaixonado pelo filha de seu senhor e, por este motivo, condenado à morte pelo pai da moça. Fugindo dos matadores contratados pelo senhor, o escravo Inácio tentou se esconder num morro, acuado por seus perseguidores, não lhe restou alternativa a não ser saltar do alto do morro, que hoje leva o seu nome. Para evitar a morte abriu um guarda-chuva, que lhe fora dado de recordação por sua amada, e desceu ao solo suavemente e sem ferimentos. Inácio partiu correndo para a mata onde se escondeu e até hoje não fora encontrado.

Encanto do Diamante

Conta-se que há uma forte união entre os diamantes e os astros. Os garimpeiros antigos contavam que para cada estrela no céu existia um diamante na terra. O garimpeiro só achava o diamante se os astros permitissem. Para que isso acontecesse era preciso ocorrer o "bambúrrio", uma encantamento entre o garimpeiro, a pedra e os astros (estrelas), era essa união que dava sorte ao garimpeiro para achar os diamantes - "E quando o garimpeiro vê a luz correr na serra ele sabe: é o chamado do diamante. Ele foi escolhido. Homem, diamante e estrela: está fechado o triângulo da magia." Assim nasce o "encantamento".

Pedra Viva

A lenda conta que as pedras preciosas da Chapada tinham o poder de se esconder dos maus Garimpeiros, ou seja, elas só apareciam nas bateias de seus supostos donos, aqueles predestinados a serem seus donos.

Lagoa Encantada

Conta que uma linda jovem apaixonada, sem ter seu amor correspondido, olhou-se nas águas da Lagoa para tentar certificar-se da ingratidão do seu amado, que a rejeitava. Constatada a injustiça que sofria, desistiu de viver e jogou-se nas águas profundas. Uma Síncope impediu que a jovem se afogasse, prendendo seus cabelos longos no tronco de uma árvore, com a cabeça fora d'água. A jovem foi encontrada ainda viva, protegida pela Lagoa. Seu amado porém, comovido com a atitude da jovem, foi ao seu encontro. Conta-se que desde então viveram em felicidade.

Chamamento

Segundo a crença do Chamamento, os diamantes atraem seus donos por causa de sua luz e seu som peculiar. O Chamamento consiste no fenômeno no qual o garimpeiro, quando se aproxima de sua pedra, escuta leves batidas nela e vê uma intensa luz sobre a serra.

Culinária

A Chapada Diamantina ainda preserva na culinária peculiaridades herdadas dos antigos garimpeiros. Além de pratos de sabor refinado, destacam-se os doces (ambrosia balas de genipapo e brevidade) e os licores, que são produzidos mais ná época junina (junho).

Arroz de Garimpeiro
arroz bem cozido com carne do sol picada e com algumas verduras.

Cortado de Palma
Um ensopado do mandacaru com temperos.

Cortados Diversos
Picadinhos de verduras ( abóbora, batatinha, chuchu e maxixe)

Fritada de mamão verde
Frigideira de mamão verde.

Godó de banana
picadinho de banana verde com carne de sol e carne de sertão.

Maturi
Polpa da castanha do caju com coco ralado, leite de côco e dendê.

Peixe no Bambá
Peixe cozido junto com a polpa do dendê.

Pirão de parida
Pirão do caldo da galinha (caipira) com bastante tempero verde (coentro, salsa, cebolinha, etc.).

Salada de batata da serra
Um tipo de batatas muito usada pelos garimpeiros, pois contém muita água.

Sopa de Fruta Pão
Fruta típica da região e que possui um grande valor nutritivo.

Festas

As Festas na Chapada são tipicamente religiosas, ou melhor, profanas, mas por motivos religiosos. Os padroeiros são na sua maioria comemorados em janeiro e junho. Merece destaque os festejos de São João em Lençóis (considerado o mais tradicional da bahia, com atrações como: Concurso de Quadrilhas, Alambique, Casamento na Roça e Shows de Dominguinhos, Trio Nordestino, Carlos Pita, Hugo Luna, entre outros.

O Festival de Inverno de Lençóis é outra boa opção, acontece em Setembro e reune astros como: Gilberto Gil, Lenine, João Bosco, Lobão, Ana Carolina, Zélia Duncan, Guilherme Arantes e outros.

Esportes
A Chapada Diamantina se adequa perfeitamente para a pratica dos esportes radicais. Rappel, Canyoning, Tiroleza, Espeleomergulho, Trekking, Off Road, Balonismo, Canoagem, Mountain Bike e Trilhas de Cross são alguns dos esportes de aventura possíveis de serem praticados na região.

Crenças Religiosas e Manifestações Culturais

Jarê

Místicos e religiosos, os garimpeiros, procuravam as velhas nagôs para saber, através dos orixás, se eles um dia teriam o merecimento de um diamante. E assim começa o Jarê na cidade de Lençóis, o culto dos negros. A dimensão religiosa e sagrada do culto, que nasceu, e só existe, na Chapada Diamantina é gigantesca. Uma variação do candomblé, impregnada pelo simbolismo negro e indígena, assim pode ser definido o Jarê. +Leia Mais

Curiosidades

VOCÊ SABIA...

Que há mais de 600 milhões de anos a Chapada Diamantina era coberta pelo mar. Hoje em dia ainda é possível encontrar conchas e pedaços de corais em cavernas e leitos de rios.
Que a paisagem da Chapada Diamantina começou a se modificar com o choque de dois blocos continentais. Este fenômeno forçou a criação de morros, cânions e rios.
Que seu acervo arquitetônico é constituído basicamente por edifícios da segunda metade do século passado, construídos com diferentes técnicas onde se destacam as cores vivas de suas alvenarias e esquadrias.
Que o Parque Nacional da Chapada Diamantina foi criado em 1985, por decreto federal, abrangendo uma área de 152 mil hectares na serra do Sincorá e arredores.
Que o Parque Nacional localiza-se no centro da Bahia e abrange os municípios de Lençóis, Palmeiras, Andaraí, Mucugê e Ibicoara.
Que é na Chapada Diamantina que se encontra os três pontos mais altos do Estado da Bahia. O Pico das Almas com 1.958 metros, o Pico do Itobira com 1.970 metros e, o mais alto, o Pico do Barbado com 2.080 metros de altitude.
Que a cachoeira Glass ou Fumaça, com seus 420 metros de queda livre é a maior do Brasil. Ela recebeu este nome porque a força do vento por muitas vezes, não deixa a água tocar o chão, sendo jogada para o alto em jato nevoento.
Que os melhores meses para se visitar o Poço Encantado fica entre abril e setembro, pois nesses meses ocorre um interessantíssimo fenômeno da natureza; no período da manhã um raio de sol entra por uma clarabóia e incide sobre a água cristalina, criando um efeito belíssimo.
Que no Poço Encantado foi descoberta uma espécie raríssima de bagre albino com cerca de 4 cm, 3 antenas e sem olhos.
Que a descoberta das jazidas de diamantes foi feita pelos naturalistas alemães Spix e Martius, no ano de 1820.
Que na Chapada há mais de 100 grutas catalogadas, recheadas de estalactites, estalagmites, rios subterrâneos e painéis com pinturas rupestres.
Que a Gruta do Lapão é a maior caverna de quartzito da América, c